Levem o trabalho em La Paz muito a sério

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Klička é um codinome; nome real: Jaromír Kábrt.

Em 1961, o serviço de inteligência da StB organizou a instalação de uma nova rezidentura em La Paz, na Bolívia. No final de novembro daquele ano, a central da inteligência tchecoslovaca em Praga foi informada que o novo residente chegara finalmente a La Paz, desde Havana via Caracas. No início de dezembro, envia-lhe uma longa carta, assinada pelo chefe da seção americana, o camarada Borecký  (este era um codinome; nome real: Jiří Stejskal). A viagem do novo residente foi um pouco improvisada, pois Caracas foi informada que ele não possuía o visto necessário para prosseguir a viagem até a Bolívia. Graças à śliwowica (vodca de ameixas) do estoque da rezidentura em Caracas, ele conseguiu resolver o problema relativamente rápido e, após três dias de espera, pôde continuar a sua viagem. Seja como for, essa viagem levou mais tempo do que o previsto e a central em Praga ficou bastante apreensiva por causa disso.

Quando finalmente chegou a notícia de que o oficial já se encontrava no local de destino, rapidamente lhe foi enviada uma resposta. A carta com a data de 5.12.61, contendo as primeiras instruções para o oficial da StB (que trabalhava sob cobertura diplomática) em La paz, nos permite conhecer a “cozinha” do serviço de inteligência, ou seja, conhecer os motivos que levaram a organização de uma rezidentura da StB na distante Bolívia. Por que a Tchecoslováquia investiu tanta energia em algo que hoje parece ser um absurdo para nós: organizar bases de espiões na América Latina. Vejamos então o que o camarada Borecký escreveu sobre isso:

…uma nova rezidentura em La Paz é justificável, tanto no que diz respeito ao progresso político atual dos países da América Latina,  como nos acordos que foram feitos com os amigos soviéticos. Sendo assim, levem o trabalho de vocês em La Paz muito a sério, justamente desde o ponto de vista da importância que é atribuída a este país …

Então podemos ver que o motivo do envio do funcionário de inteligência tchecoslovaco para a Bolívia foram os acordos com a KGB. O mesmo ocorreu no caso de outras rezidenturas da StB na América Latina. O conteúdo da carta pode causar uma impressão de que o camarada Borecký supunha que seu subordinado tinha dúvidas quanto a sua missão em algum lugar nos Andes. Por isso lembrou-lhe da carta que deveria “levar muito a sério” as suas tarefas. Segundo o relato do espião Ladislav Bittman que fugiu para o ocidente, Borecký era um funcionário de inteligência nato, ou seja, um homem no lugar adequado que compreendia bem em que consistia o seu trabalho. As palavras “muito a sério” em sua carta demonstram que, como chefe, possuía empatia, o que é uma característica de um superior competente, e Borecký, sem dúvidas, o era.

A rezidentura em La Paz não existiu por muito tempo, somente até o ano de 1964, mas essa já é uma outra história. A base da StB na Bolívia, principalmente o documento sobre ela, nos dá a oportunidade, assim como no caso da base uruguaia, de conhecer a maneira de trabalhar do serviço de inteligência da StB em um novo local de atuação. Podemos saber quanto dinheiro era necessário para desenvolver o trabalho, de quais equipamentos o espião precisava, como se afeiçoava gradativamente ao, assim chamado, ambiente de trabalho do serviço de inteligência, ou seja, a capital, instituições estatais e, principalmente, as pessoas com as quais criou posteriormente a base para desenvolver os contatos.

Neste caso, ao contrário da rezidentura no Rio de Janeiro, temos à disposição este relato graças à correspondência operacional entre a central em Praga e a rezidentura da StB. Isso porque as rezidenturas em La Paz e Montevidéu surgiram após o ano de 1960, enquanto a do Rio, em 1952, tempo em que a condução da documentação se dava de forma diferente.

Vladimír Petrilák

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