Žuk

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ŽUK – quase DS (contato secreto)

Contato secreto – é uma das categorias de colaboradores do serviço de segurança tchecoslovaco: cidadãos tchecoslovacos ou estrangeiros, que tiveram contato com os funcionários do serviço de inteligência e entregaram a eles diferentes informações sem a necessidade de compromisso de colaboração. Recrutamento – processo de aquisição de um colaborador secreto, onde primeiramente é verificada suas qualidades e competências, posteriormente, sua motivação para colaboração e, finalmente, é recrutado, ou seja, tem início uma colaboração direta.

 

Um caso interessante de informante, que após certo tempo foi caracterizado por seu órgão controlador como um “contato quase confidencial”. Assim foi avaliado pelo camarada “Nesvadba”, oficial controlador do tipo em Santiago do Chile, pois “fornece de forma consciente e sistemática uma série de informações e empresta documentos de bom valor de inteligência”. Além disso, o informante também pode ser incumbido de tarefas relacionadas a assuntos de natureza de inteligência.

Isso significa que, do ponto de vista do serviço de inteligência civil tchecoslovaco (StB, 1. Direção), não se tratava apenas de um contato útil, mas também eficaz, no qual se podia confiar e que fornecia materiais para este serviço relativos a vários países latino-americanos. Tratava-se principalmente de materiais econômicos, pois ele trabalhava para a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e, em razão de seu cargo, viajava frequentemente para o Peru, Bolívia e Equador. Ele também colaborou com a agência ILPES (Instituto Latino-Americano e do Caribe de Planejamento Econômico e Social).


O informante levava vários documentos confidenciais para as reuniões com o órgão controlador, que os pegava emprestados por um curto período e fazia fotocópias deles na residência, enviando-as para a sede em Praga. As informações eram, portanto, profissionais, precisas e detalhadas – a StB geralmente as repassava à KGB, pois com base nelas era possível determinar as perspectivas econômicas de longo prazo dos países latino-americanos para os quais a CEPAL trabalhava. Em reuniões com o oficial, “Żuk” complementava essas análises e materiais conceituais com sua avaliação das condições políticas.

O fato de que esse “quase DS” (contato quase confidencial) estava ciente do que estava envolvido ao se encontrar com seu amigo tchecoslovaco, e que não se tratava de uma amizade com um “diplomata” (como o órgão controlador se apresentava), é evidenciado pela realidade de que ‘Nesvadba’ “entregou” “Żuk” a outro oficial que o substituiu na residência. Żuk aceitou essa transição sem problemas, ou seja, ele estava ciente de que, de certa forma, havia se tornado um elemento em um tipo de jogo. Sua importância para o serviço de inteligência de Praga também residia no fato de que ele transmitia informações confidenciais e secretas de importância continental, ou seja, abrangendo um número relativamente grande de países na América Latina. Seguindo as instruções da sede, “Nesvadba” tentou convencer Žuk a aceitar o papel de agente-recrutador, que recrutaria outros colaboradores sob uma bandeira falsa.


O outro oficial controlador que se encontrou com o informante inicialmente pensou que “Żuk” (pronunciado como Juque) não poderia ser recrutado como agente, mas reconheceu que seu predecessor havia feito um bom trabalho, pois o informante concordou sem hesitação com o caráter conspiratório das reuniões, comparecia pontualmente aos encontros agendados e estava disposto a fornecer informações. Ele também começou a aceitar pequenos presentes (geralmente vidro lapidado tcheco).

A central esperava que, mais cedo ou mais tarde, o indivíduo fosse recrutado como um agente completo da inteligência tchecoslovaca, e por isso insistiu para que o oficial responsável tentasse complementar os dados para o memorando, ou seja, as informações pessoais exatas do indivíduo, como a data de nascimento, para que, conforme as instruções, “sua ficha pudesse ser criada na central”.


O oficial cumpriu a tarefa após um mês, mas suas informações complementares continham um elemento que, de fato, frustrou os planos do comando. Acontece que “Żuk” estava no Chile porque foi forçado a emigrar do Brasil em 1964; ele era um ministro da agricultura progressista no estado de Pernambuco, ligado às forças de esquerda que foram derrotadas pelo golpe militar em 1964. Em uma reunião com o oficial responsável, além de sua data de nascimento, ele revelou que estava em contato com comunistas brasileiros no Chile desde 1964. Em dezembro de 1970, ele recebeu e aceitou a oferta de filiação ao partido comunista.

Essa foi uma notícia terrível para o serviço de inteligência, pois a proibição de recrutar membros de partidos comunistas ainda estava em vigor. Por isso, a central queria saber os detalhes do caso e, caso houvesse confirmação confiável, as instruções eram claras: se a sua filiação ao partido comunista fosse confirmada, o desenvolvimento ativo deveria ser interrompido. Como o brasileiro explicou mais tarde, o partido comunista brasileiro no Chile operava ilegalmente para evitar a infiltração de inimigos, o que tornava a situação ainda mais inaceitável para o StB.


O recrutamento de “Żuk” como agente, portanto, não aconteceu, apesar das circunstâncias favoráveis, por causa de seu envolvimento comunista. No entanto, as reuniões com ele continuaram, pois ele era um contato muito útil que transmitia informações importantes. Além disso, devido à rotação dos oficiais da StB, ele foi entregue a outro oficial controlador, de modo que se esperava que ele continuasse a ser tratado como uma fonte relevante. Essas reuniões eram semioficiais e não tão intensas quanto no período anterior; basicamente, houve um enfraquecimento desse contato.

 

Em novembro de 1973, o sub-arquivo de Žuk foi arquivado, o que significa que o caso foi definitivamente encerrado.


O desenvolvimento do brasileiro Jader de Andrade durou desde os anos 60, quando “Nesvadba” o conheceu ainda no Brasil, até 1972 no Chile. A fase intensiva da intervenção começou em Santiago do Chile apenas em dezembro de 1968. A confirmação final da informação de que ele se tornou um membro secreto do partido comunista no final de 1970 foi obtida em abril de 1971, ou seja, a partir dessa data a intensidade do desenvolvimento diminuiu significativamente e ele foi utilizado apenas como informante, e de forma mais cautelosa.

De Andrade também pode ser encontrado na documentação divulgada pela CIA, por exemplo, em junho de 1963 foi transmitida à sede desse serviço uma informação que, entre outras coisas, registra que Andrade era membro da liderança das Ligas Camponesas de Francisco Julião, que era uma organização de esquerda apoiada por Cuba e pela KGB soviética. Naquela época, Jader de Andrade era Ministro da Agricultura no governo do estado de Pernambuco.

 

O Dom que vive em nós Helder Camara e a igreja no meio do povo – Pedro Eurico de Barros e Silva · 2021
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